Neste artigo vou discorrer sobre as colisões de velame e fazer recomendações sobre quando desconectar, quem desconecta primeiro, quando ficamos e mandamos mais pano. Também vou abordar a importância da comunicação e como ela deve ser feita.
Colisão com outro paraquedista com o velame pode ser uma das piores emergências, especialmente se estiverem à baixa altura. Evitar colisões deve ser uma preocupação constante durante todas as fases do salto depois da abertura. Para isso, existem alguns hábitos a serem desenvolvidos.
“Colisões de velame são experiências traumáticas, por isso temos que evitá-las a todo custo. Entretanto, se uma colisão acontecer, saiba o que fazer.”
Contato visual
É FUNDAMENTAL A MANUTENÇÃO DO CONTATO VISUAL COM OUTROS PARAQUEDISTAS O TEMPO TODO, DESDE A ABERTURA ATÉ O POUSO.
Desde o momento do acionamento (comando) da abertura, mantenha-se olhando para frente e de rápidas olhadas para o velame que está em fase de abertura depois que ele sair da bolsa, mas volte a olhar para frente.
Durante toda a navegação procure velames ao ser redor, abaixo e acima. Sempre olhe antes de fazer uma curva, e sinalize com as pernas quando avistar outro paraquedista. Se ele responder, é sinal que está te vendo. Caso contrário, fique atento, se afaste ou mude de nível.
Mesmo depois do pouso, tome o cuidado de recolher o velame de frente para quem está na final. Só baixe a guarda quando estiver dentro do hangar.
Cone de colisão
Tem alturas que as chances de colisões são maiores. É importante saber como se comportar em cada uma dessas alturas e o que fazer para evitar.
![Cone de colisão de velames](https://next.cbpq.org.br/wp-content/uploads/2022/12/colisao-velames-1-740x520-1.webp)
Quais são os motivos que indicam maior risco de colisão durante e após a abertura, e depois no circuito de aproximação para o pouso?
Na abertura são os seguintes:
1- separação do salto em grupo sem critérios, sem planejamento, por imperícia ou negligência;
2- aberturas fora do eixo;
3- panes;
4- twists.
Mas não é só isso. Também podem colaborar para uma colisão durante ou logo após a abertura, a divisão dos grupos no embarque, o pouco distanciamento na saída, desrespeito à altura combinada de abertura e falta de habilidade.
No circuito de aproximação para o pouso, aumentam as chances de colisão devido a: aglomeração de paraquedistas na chegada, a falta de contato visual, paraquedistas que não respeitam o circuito, mudanças de direção e intensidade do vento.
Separação vertical
A Separação vertical é Importantíssima. Tente evitar de ficar no mesmo nível que outros paraquedistas. Se você é leve e tem um velame relativamente grande, quando estiver no mesmo nível que outro, freie para flutuar. Se você for mais pesado e tem um velame relativamente pequeno, deixe o velame passar para baixo simplesmente ficando em voo total, ou puxando os tirantes da frente.
![Ilustração do procedimento de separação vertical](https://next.cbpq.org.br/wp-content/uploads/2022/12/colisao-velames-2-740x520-1.webp)
Em rota de colisão
Se um velame estiver vindo na sua direção em rota de colisão, faça uma curva de 90 graus à direita. Caso estejam ambos convergindo para um ponto de colisão à frente, faça uma curva desviando para fora.
Colidindo
Durante muitos anos se ensinou a abrir braços e pernas no momento da colisão para que o paraquedista não atravesse por dentro das linhas do outro.
No entanto, essas instruções foram feitas pelos paraquedistas militares para saltos de tropas usando paraquedas redondos, que são lentos e tem muitas linhas. Essas orientações foram passadas para o paraquedismo esportivo ainda no tempo dos redondos (anos 1960 e 1970).
Os tempos mudaram. Hoje os paraquedas se deslocam horizontalmente a velocidades que ultrapassam em muito os 100 km/h quando estão voando em sentidos opostos.
Enfrentar uma colisão com braços e pernas abertas é o mesmo que entrar numa briga com a guarda baixa e as pernas abertas, é pedir para receber um golpe entre as pernas e na cara. Ou pior.
Quando eu morava em Deland, uma paraquedista italiana foi atingida na cabeça pelo joelho do outro paraquedista. As lesões que sofreu foram irreversíveis.
Minha recomendação é fazer uma posição pequena, do tipo bolinha, para se proteger e oferecer a lateral, pois não serão as pernas abertas que irão evitar de alguém atravessar as linhas de outro paraquedas numa colisão em grande velocidade.
Proteja pescoço, braços, pernas, e ofereça a lateral do corpo. Isto se der tempo, pois tudo acontece muito rápido.
Aqui está outro motivo para se fechar numa posição de proteção: é que esta (posição fetal) é a reação natural e involuntária do nosso corpo diante de um impacto.
Depois da colisão
Como eu afirmei anteriormente, o primeiro passo é tentar se comunicar com o outro paraquedista e decidir de comum acordo o que irão fazer. Isto, considerando que estejam acima de 1000 pés.
Comunicação
A comunicação deve ser imediata e positiva. O que eu quero dizer com ‘positiva’, é que devemos falar para o outro apenas aquilo que queremos que ele faça: “fique aí”, “mantenha”, “segura mais um pouco”, “olha a altura. O ‘não’ pode não ser audível e o colega eventualmente fará exatamente aquilo que você não quer que ele faça. Exemplo: dizer para ‘não desconectar’ pode ser ouvida como ‘desconectar’.
Abaixo de 1000 pés
Abaixo dessa altura, se recomenda que fiquem os dois juntos até o pouso ou impacto, enfrentando juntos a emergência. Nessa situação sugere-se ‘mandar mais pano’, ou seja, ambos comandam o reserva sem desconectar.
Quando a colisão ocorre próximo ao solo não dá tempo de fazer nada. A única tentativa que pode amenizar é puxar o punho do reserva para ganhar mais arrasto (tentar diminuir a velocidade da queda).
Colisões próximas do solo tem que ser evitadas a todo custo.
Colisões acima de 1000 pés
Apenas reforçando, ao colidir e se embrulhar no tecido ou se embaraçar nas linhas do outro paraquedas, o primeiro passo é iniciar a comunicação. Por isso temos que estar sempre prontos para agir ou reagir, mas é fundamental saber em quais situações o de cima desconecta primeiro e quando o de baixo desconecta primeiro.
Presenciei este acidente, conforme vou descrever:
Depois de um salto em grupo (4-way), os paraquedistas se separaram, mas houve algum problema que levou os dois a colidir e um deles ficou embaraçado nas linhas e velame.
Sem se comunicar, o paraquedista de baixo desconectou primeiro e deixou o segundo embrulhado em meio a linhas e velame.
O paraquedista de cima desconectou após o primeiro ir embora e comandou o reserva. Porém, ele estava enrolado pelo velame e linhas do amigo, o que fez com que o container do reserva desse que ficou permanecesse fechado, mesmo após o comando. Sem conseguir abrir o seu reserva e já tendo liberado o principal, ele ficou sem nada.
Pois é, Deus é paraquedista. Um pequeno pedaço de tecido do velame do outro paraquedista, no qual o protagonista desta história ficou embrulhado, se inflou parcialmente como uma pétala de flor na lateral e provocou um giro, como aquelas folhas que descem girando igual a um helicóptero de uma pá.
Graças a esse giro, ele não teve um impacto vertical no solo. Bateu tangenciando. Embora tenha pousado no asfalto e sofrido várias lesões, o acidente não foi fatal.
Quem desconecta primeiro
Essa história que reproduzi acima serve para ilustrar que a decisão de quem desconecta primeiro depende da possibilidade de deixar o outro colega embolado em linhas e velame ou não. Esta é a razão pela qual deve haver comunicação entre os paraquedistas, e o motivo pelo qual o paraquedista de cima deve tentar se desvencilhar das linhas (do paraquedas de baixo) e desconectar primeiro em alguns caso.
Revendo as prioridades. Quem desconecta primeiro depende de uma análise da situação, entretanto na maior parte das vezes funciona assim, depois de se comunicarem:
Desligar o RSL para depois operar manualmente o reserva.
O de cima está embrulhado no velame, mas o seu velame está aberto – nesse caso o de baixo desconecta primeiro.
O de cima está entrelaçado e preso nas linhas – nesse caso, talvez seja melhor o de cima se livrar das linhas e desconectar primeiro.
Se você for o paraquedista de cima e está embrulhado no velame do paraquedista de baixo, tem uma boa chance de que o seu velame ainda esteja voando. Nesse caso em que o paraquedista de cima esteja com um velame com sustentação, mesmo que embrulhado no velame, recomendamos que o de baixo desconecte primeiro.
Se você estiver em cima e embaraçado nas linhas com o seu velame também em pane, você provavelmente está numa situação em que deverá desconectar primeiro. Estabeleça um canal de comunicação com o paraquedista de baixo e livre-se primeiro das linhas antes de desconectar.
Depois de desconectar, se tiver altura, certifique-se que está liberado de linhas e velame e comande o reserva.
Ações de prevenção
Ter uma Hook knife
Divisão dos grupos no embarque
Distanciamento entre os grupos na saída
Plano de separação no final da queda-livre
Alturas de abertura devem ser respeitadas
Em rota de colisão (desviar)
Fazer uso da navegação preventiva
Entrar e navegar no circuito consciente e respeitando os demais em posições próximas
Manter a reta na final para o pouso
Repito, para sobreviver neste esporte é fundamental aprender a navegar na defensiva. Olhe sempre ao seu redor. Produza distanciamento vertical e horizontal de outros paraquedistas.